quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Maria na janela; Patinhos na lagoa

2013, é certo, acrescentará à minha história de escrita mais dois livros infantis. Cada um com sua trajetória, ambos amparados pelo selo da Editora Biruta, da minha querida Eny Maia, parceria que tem conquistado alguns destaques e alguns PNBEs. Isso é bom. Sempre. Quando há sintonia entre o querer do autor e o do editor, o resultado são livros lindos, prontos para serem degustados, saboreados, por leitores de todas as idades. O bom livro infantil, já disse Orígenes Lessa, é aquele que, quando lido por um adulto, provoca-lhes encantamentos. E isso que creio desejar ao lançar novo livro: que seja capaz de trazer um tanto de encanto para aquele que abri-lo. Escrever é possibilidade de encontro, sempre. E vem aí, Sete patinhos na lagoa, com ilustrações de Laurent Cardon, que quer brincar com as palavras, quer provocar alegria, retomando as narrativas-poéticas de acúmulo. Já Maria e seu sorriso na janela, com ilustrações de Rafa Anton, pretende discutir um tema mais pesado, a morte, de forma leve, tênue, poética. Afinal, a vida é, independente de idade, conviver constante com seus paradoxismos. E se é bom escrever, melhor ainda ver que meus textos encontraram guarida num selo editorial e agora são pássaros que traçaram seus voos. Voos que espero certeiros, diretos ao coração de mais e mais leitores.
 
Ilustração de Rafa Anton, para Maria e seu sorriso na janela

domingo, 23 de dezembro de 2012

Alice mora em mim

Há cem anos antes de eu nascer, Lewis Carrol arquitetou uma trama nonsense que me encanta por demais. O que faz, afinal, com que um determinado livro se tatue em nossa alma leitora para sempre? Diferentes são os caminhos da paixão literária, creio. Assim, não me perco em elocubrações para definir o que imprimiu as tintas de "Alice no país das maravilhas" em mim. Amo, apenas. Assim, sem nada de entendimento, que o amor não carece mesmo de compreensão. E amo tanto que a presença de Alice já virou coleção com 47 diferentes publicações. Muitas delas ganhas de amigos que andam circulando pelo mundo e que me enviam Alices nas mais diferentes línguas.
Pois Alice faz 150 anos. E sua magia, e seu encantamento seguem vivos, seguem desejosos de mais e mais leitores. Obra viva, sempre viva em mim.
 

Minhas Alices

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Duas Dores

Nas andanças literárias (e nem sempre literárias), olhos alçando céus, vou me deparando com torres e mais torres. Igrejas me encantam. Encantamento que tem a ver com a infância e também com o que esses espaços propiciam de reflexão, de momento para que se possa se voltar para dentro de mim mesmo. Gosto disso, gosto de enveredar pelos corredores, sobretudo se o templo está vazio. Olhos sempre buscando imagens, por vezes mergulhos em outros tempos. Pois nessas andanças, encontro duas Dores: aquela que tanto amo, em Porto Alegre, e uma outra em Sentinela do Sul. Duas igrejas, uma mesma homenagem.
 
Igreja das Dores, Sentinela do Sul
 
Igreja das Dores, em Porto Alegre
 

Sobre o escrever 8


Não gosto de muito hermetismo na linguagem, quando o autor se propõe narrar. A estética não pode nublar a narração. Algo que muito se vê hoje. A narrativa precisa saber contar uma boa história de forma esteticamente elaborada. Mas, enfim, uma trama. A história tem que estar ali, atuando com seus claros e escuros, mas ali, prenhe de significações para o leitor: a fábula não se esconde, não é assassinada pela linguagem que a devia vivificar. Deixemos as metáforas enigmáticas para a poesia. Esta sim tem liberdade maior para captar estados da alma.
 
 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Não sei

Não sei direito o que acontece. O certo é que nada é certo, talvez por isso brinquemos de que um dia o mundo possa acabar, assim como os afetos se esfumaçam, as mãos se afastam, as palavras ditas ecoam no vazio. Mas, quem sabe, algo fique: a memória do que poderia ter sido. Essa a dor maior, afinal o que foi é sabido; já o não acontecido sempre reverberá mistérios.

domingo, 16 de dezembro de 2012

As surpresas do sábado

E o sábado foi fechar de semana, fechar de ciclo. Com ele, seu tanto de ausência, seu outro tanto de surpresas: o abraço de um amigo, o telefonema de um afeto, a palavra repleta de poesia, a promessa bem urgente de algo mais, a filha que bate asas ao encontro do amado. A vida é mesmo (e só) possibilidades.
Pois foi-se o sábado como vão as lágrimas. Outras virão; outros sábados também. Hoje é domingo. E isso parece ser bom

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A esperança da sexta

A sexta veio! É quatorze, não treze. Sextas 13, dizem, atraem coisas não boas, atraem seres de mundos outros. Já as 14 não sei o que trazem, contra quem conjuram. Apenas sei que agora, bem próximo das 18, esta (que é 14, não 13) traz promessas, esperanças: traz o canto de um pássaro lá fora, traz o sonho de uma adolescente lá na sala, traz o encontro com muitos jovens e crianças leitoras, traz o desejo de me verter em palavras.
E que estas palavras sexta-feirinas, mesmo mergulhadas na dor do viver, possam ser broto verde, daqueles que enchem a gente de sonho e do desejo de mais e mais amor.
A sexta veio. Mas partirá, eu sei. E, mesmo assim, não trago o coração desesperançado.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

As línguas da quinta

Era uma vez uma quinta-feira: quinta nem tão igual como as tantas outras já sumidas no tempo; quinta que sempre imporá lembranças não queridas; quinta que será para sempre.
Era uma vez uma quinta-feira, e ela veio como todas as outras, em pingos de chuva, arremedo das lágrimas vertidas, sentidas, incontinentis.
Era uma vez uma quinta-feira: quinta de possibilidade de afetos; quinta que, embora tenha trazido adeus, trouxe também encontros.
No tempo do era uma vez, toda a quinta será memória do tempo em que aquele que se foi era herói e seu cavalo falava toda e qualquer língua.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O vazio da quarta

A quarta.
A quarta trouxe a perda, foi-se no se fazendo ausência e, por criar vazio, será sempre lembrança e lágrima. A quarta.
Há dias que se perpetuam na memória, quer por serem remédio amargo, dor profunda, alegria desmedida. Mas sempre e, apenas, agora, lembrança.
E lembranças não preenchem faltas.
A quarta morre.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A desesperança da terça

E a terça-feira foi devorada também. Um sopro de amanhã jogou-se sobre ela, sopro que arvorou desesperança, que arquitetou amanhãs cuja força esmorece.
A terça foi sugada pelo tempo. E deixou atrás de si um tanto de dor, um tanto de lágrima, outro tanto de adeus.

As águas da segunda

E a segunda também se foi.
Foi-se como as águas de um mesmo rio a enganar com sua inexistente constância. Sempre outras; outras águas sempre. O que fica, afinal, (se é que algo se perpetua) no repetitivo fluir do rio é apenas a memória do surpreendido: um reflexo fugido do sol; um agito de peixe ou de sereia; o leve ondular de uma folha órfã de árvore; uma mão estendida ao náufrago.
Apenas nem sempre é menos.

domingo, 9 de dezembro de 2012

As pombas do domingo

Vai-se um domingo, como vão-se as pombas do pombal. O voo é lindo, no entanto deflagra uma ausência de arrulhos.
Ficamos, pois, inertes a observar o momento que passa, sem outra opção que não apenas tentar guardá-lo como lembrança. E esse ir é constante, sempre e sempre. Vamos nos enganando, fingindo não ver a ruga que marca o tempo no rosto, a neve que tinge um e outro fio de cabelo, o corpo que já não tem o viço de antes. Seguimos em frente, porque nada mais resta mesmo senão seguir. Guiados pela mera ilusão de que somos senhores do tempo.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Sobre a escrita 7

Escrevo. É o único jeito que conheço para tentar me conhecer. Todavia, por vezes, as palavras não dão conta do que vai no dentro de mim. Daí, o que fazer? Silenciá-las? Amordaçá-las? Fingir que o desejo de verbalizá-las inexiste? Nem sempre palavras são sintonia entre o que querem construir e a capacidade para tal construção. Palavras, por vezes, podem ser forma de afastar aquilo que se queria perto. Nem sempre aproximação. Escrevo.  - Caio Riter